AS MINHAS CRÓNICAS
UMA TARDE DE DOMINGO
E porque hoje é domingo, dia em que por norma gosto de ficar na cama mais um bocadinho e quando chego à cozinha já o sol vai alto e diz- me: " bom dia" com aquele seu ar bonacheirão e o rosto luzidio, sentei-me a tomar o pequeno almoço e resolvi escrever alguma coisa para ajudar a passar o tempo, e eis aqui um resumo de uma tarde que passei com a minha irmã que mora do outro lado da rua.
Em passos curtos e decididos atravesso a estrada e toco à campainha; subo os degraus que nos separam, e depois de comodamente instaladas nos sofás começamos a conversar, conversas banais, comentários e quase sem darmos por isso passamos para as recordações da nossa juventude. A conversa enveredou para o Colégio de São Luís que já foi demolido à uns anos e dos estudantes que por lá passaram; alguns ainda conheço, outros não. E isto porquê? Porque o meu pai conhecido pelo Sr. João da Loja tinha uma mercearia na rua 31 com a esquina da 26 e os estudantes do Colégio frequentavam-na para comer as sandes de torresmos e de atum e comprarem uns cigarros que à época se vendiam avulso.
E de recordação em recordação lembramo-nos dos nomes dos cigarros que hoje já não existem penso eu, como o " PORTUGUÊS SUAVE", os " PROVISÓRIOS", os " DEFINITIVOS, " os " KENTUCKS" ,os " NEGRITOS" e daqui às bebidas foi um saltinho, porque alguns gostavam de beber o seu copinho à rebelia do Padre Costa director do Colégio que lhes aparecia de surpresa com a varinha na mão.
Quem não se lembra dos " paralelos"? ( Vinho com águas das pedras e açúcar) ou dos "traçadinhos" ( vinho branco misturado com vinho tinto) e servido num copo pequeno. Inúmeras recordações que nos fizeram dar algumas gargalhadas. É verdade que a conversa é como as cerejas porque de repente já estávamos na Sibéria; ah pois, eu fui muitas vezes lá por estranho que pareça. A minha irmã quando os dias começavam a ficar mais frios, colocava o xaile da minha avó pelas costas e levava-me embrulhada nele, até ao fundo do quintal, dizendo que íamos à Sibéria e durante muitos anos eu acreditei que ela ficava ali tão perto; só mais tarde descobri que ficava num país longínquo.
Fernanda Duarte Cabral
2 Comentários:
Muito bom!
Obrigada
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