quinta-feira, 1 de outubro de 2020

AS MINHAS CRÓNICAS

 A CASA DOS MEUS AVÓS PATERNOS


Aquele enorme portão de madeira pintado de castanho, com um enorme batente exercía um enorme fascínio sobre mim. Por cima dele existia um brasão, vestigios de uma antiga casa senhorial.

Quando o portão se abria, um mundo completamente diferente daquele a que estava habituada, aparecia diante dos meus olhos de criança. Logo à entrada deparava-me com um carro de bois que esperava em silêncio pela sua próxima viagem; nas paredes laterais as cangas dependuradas, e pousadas no chão a charrua e o arado.

Após meia dúzia de passos, aparecia  à minha frente um enorme poço e sobre ele pendia uma grande laranjeira que produzia laranjas doces e sumarentas e à frente existia uma pia de pedra  talvez para os animais beberem. Ao lado direito havia uns currais e no terreiro defronte da casa, as galinhas passeavam debicando os grãos de milho, enquanto os gatos dormiam placidamente aproveitando a sombra dos telheiros que os abrigava do sol do meio dia. À esquerda ficava a casa da família, entrava-se diretamente para a cozinha e do lado direito por dois degraus de pedra, polidos pelo tempo descia-se para a adega onde repousavam os barris de vinho  e a salgadeira onde se guardava a carne dos porcos para a alimentação da família. Regressando à cozinha do lado direito, uma enorme lareira onde descansavam duas panelas de ferro de três pernas, por cima numa trave de madeira defumavam as chouriças e as morcelas espalhando um agradável cheirinho no ar. O louceiro na parede do lado esquerdo onde se guardavam os pratos e as travessas e a enorme mesa de madeira tosca onde se sentavam os comensais para degustar a bela sopa de hortaliça que fumegava dentro da terrina depositada na mesa, quando o relógio da igreja tocava as doze badaladas faziam parte do mobiliário. Havia ainda uma pequena sala por onde se tinha acesso a partir da cozinha e que ficava virada para a rua. Aí havia uma porta por onde se saía para a rua com três degraus em pedra e uma janela. Entre a porta e a janela encostada à parede existia uma cómoda onde repousavam tranquilamente um Cristo dentro de uma redoma, tenho ainda uma vaga ideia de existir um relógio de pêndulo. Ao lado havia mais dois quartos, um dos quais era do casal (meus avós) apenas com uma cama e uma mesa de cabeceira, pois naquele tempo os quartos eram pequenos, o outro também era pequeno apenas com uma cama onde dormia um tio. Dava-se primazia à cozinha centro das reuniões familiares e dos serões à lareira; as paredes eram desprovidas de ornamentos.

Voltando para trás, saindo pela cozinha enveredava-se por um caminho de terra batida separado por um pequeno portão onde existiam os currais do gado e mais à frente um grande terreno de cultivo onde se plantavam as batatas e os legumes da época e ainda milho para a alimentação dos animais, do lado direito havia a eira onde se malhava o milho

Muito mais coisas haveria certamente para contar, mas nesta época eu era muito novinha e não me lembro de mais nada no entanto, esta casa deixou-me saudades dos meus tempos de criança e um sabor amargo e doce ainda permanece em mim.

Saudades...

Saudades da casa dos meus avós

Fernanda Duarte Cabral






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