AS MINHAS CRÓNICAS
" A MINHA RUA E AS CASAS"
A rua onde eu vivi na minha meninice deixou-me várias recordações, aliás já lhe dediquei um poema mas, de vez em quando invade-me alguma nostalgia e apetece-me escrever sobre ela.
Quando eu era pequenina podíamos percorrer as ruas de cima a baixo sem problema algum porque não havia trânsito e tudo era calmo e sossegado embora eu estivesse confinada desde a rua 24 até à rua 32 excepto quando tinha de ir comprar o pão à padaria ou entregar géneros alimentícios aos clientes da mercearia dos meus pais.
Tenho saudades principalmente dos vizinhos, a maior parte já partiu porque eram pessoas com uma certa idade mas vou tentar recorda-los nestas linhas que escrevo. Eu vivia na esquina na rua 31 com a 26 e atravessando a estrada para baixo existia uma velha casa onde morava a Dona Filomena ou Dona Mena como era conhecida e o marido o Sr. Osório; este casal era muito peculiar porque a senhora era muita baixinha e roliça e o marido um homem muito alto e magro, tinham um filho o João Manuel que hoje deve andar à volta dos setenta e tal anos; ainda fazia parte do agregado familiar a mãe da senhora a Dona Judite. Tenho gratas recordações desta família, pois quase todos os dias quando chegava da escola ia lá a casa lanchar chá ou café com leite porque eu não gostava de chá com leite como normalmente tomavam, à boa maneira dos ingleses e ainda bolachas Maria compradas na loja do meu pai. Contornando a esquina e descendo a rua encontrávamos outro edifício onde funcionavam creio eu os laboratórios do Colégio da Nossa Senhora da Conceição.
Logo a seguir existia e ainda existe a casa onde viviam os donos do dito Colégio e mais abaixo funcionava noutro edifício todas as outras valências onde estudaram as " meninas bem" de Espinho e que passado uns anos foi demolido aquando da construção de um novo edifício para o colégio e que deu lugar a um prédio com vários apartamentos.
Passando para o outro lado da rua e subindo o passeio havia um grande terreno onde anos mais tarde se construíram estabelecimentos, apartamentos e vivendas. Duas dessas vivendas eram geminadas onde viviam a Dona Cândida e o Sr. José das malhas, assim conhecido porque nas traseiras da casa funcionou durante muitos anos uma fábrica de malhas que lhe pertencia e que empregou muita gente; ao lado vivia a Dona Dorinda e o Sr. Aurélio, donos de uma ourivesaria famosa cá de Espinho, a seguir vivia a Dona Amável e o Sr. Fernando que vieram de Lisboa, este casal não tinha filhos mas a senhora tinha um pavão que a seguia para todo o lado. Continuando a subir a rua, logo na esquina encontrávamos a casa cor de rosa como era conhecida por estar pintada desta cor e que ao longo dos anos teve vários habitantes com muitas histórias para contar. Encostadas a esta casa existiam três pequenas casas, a primeira onde vivia a minha avó materna Ana Emília, logo a seguir a Sr. Rosa Ganicha que sofria de surdez, vivia com a filha a Fernandinha grande amiga das minhas irmãs e na última casa vivia a Sr. Fernanda do Ourives assim conhecida porque a família tinha uma ourivesaria gerida pelos irmãos já que a matriarca da família era muito idosa; era casada com o Sr. Abreu, ferroviário e tinham quatro filhos, um rapaz e três raparigas minhas amigas de infância. Eu falo na ou nas esquinas sim, porque para quem não sabe Espinho é dividido em quadrados a que chamamos quarteirões e portanto em cada princípio ou fim de um quarteirão há uma esquina. Havia ainda outro grande terreno que estava alugado à CME e onde funcionava o viveiro das plantas e como tenho de continuar a subir a rua e já estou um bocadinho cansada, vou parar por aqui mas prometo continuar pois como se costuma dizer, ainda a procissão vai no adro.
Depois de um merecido descanso eis que continuo a subir a rua 31, atravesso a rua 28 que é uma rua transversal sempre pelo lado direito e logo na esquina existia e existe uma casa de r/ chão e 1° andar que continua a ser conservada pelos herdeiros dos proprietários que eram um casal sem filhos; sempre conheci a senhora sentada numa cadeira de rodas a repousar no terraço debaixo de um guarda-sol nos dias em que o sol brilhava e aquecia os dias. Logo a seguir havia a fábrica do Sr. Matos que vivia com a esposa a Dona Emília que eu admirava por andar sempre muito bem arranjada e bem maquilhada depois, a casa onde vivia o Cláudio um rapaz deficiente mas autónomo e que apesar de não falar ia à loja dos meus pais fazer os recados num papel escrito pela mãe a Senhora Maria do Céu; quase a chegar à esquina da rua 30 havia um enorme terreno com um portão de ferro e onde habitavam numa casa a Senhora Esmeraldina com o marido e os 3 filhos e noutra a Dona Lucinda com o marido que era taxista e tinham uma filha salvo erro. Sobre estes casais mais havia a dizer sobre a sua maneira de ser, de vestir e de conviver mas não vou entrar em tantos pormenores porque estou a falar da rua e é por aí que vou. Como já dizendo, atravesso a rua 30 e na esquina seguinte havia uma loja pertencente aos pais dos Capelas e até à 32 havia a fábrica do Sr. Leon Petit que fabricava pentes, ganchos, bandoletes e travessas; este senhor à época já idoso andava sempre impecávelmente vestido e usava plainitos a que eu achava imensa graça; trazia sempre nos bolsos um gancho ou travessão que oferecia às crianças que com ele se cruzavam e era engraçado ver um bando de crianças atrás dele a pedir as bugigangas. O edifício desta fábrica foi mais ao menos mantido embora, tenha sofrido alterações ao longo do tempo e hoje funciona como supermercado e restaurante.
Eis-me a atravessar a rua 32 para descer a 31 em sentido inverso e logo na esquina aparece um terreno com a casa onde vivia o Sr. João Jardineiro funcionário da Câmara , noutra casa o Sr. Mourão com a esposa e os filhos, a seguir havia a loja do Sr. Modesto que vivia no 1° andar com a esposa e 3 filhos e a seguir a casa do Sr. Peixoto com um grande quintal que chegava até à esquina.
Atravesso a rua e aparece mais um terreno onde funcionava o estaleiro de blocos do Sr. Mourão e logo a seguir a casa do Padre Justino, conhecida assim por viver lá um padre com esse nome tendo por companhia uma empregada, a seguir havia uma viela e ao fundo encontravam-se 2 casas; numa morava o Sr. Joel e a Dona Agostinha e na outra o Sr. Joaquim e a Sr. Aninhas com os filhos 2 raparigas e 1 rapaz e logo a seguir ladeado por altos muros começava o recreio do extinto Colégio de São Luís que se prolongava até ao quarteirão seguinte em direção ao Norte. Desço e encontro uma enorme casa tipo senhorial com r/ chão e 1° andar com grandes varandas ao longo da casa; no 1° andar viviam mãe e filha a Dona Francelina e a Francelininha a filha sempre impecávelmente vestidas, saíam todos os dias para ir tomar um chá frio ao Nosso Café, onde se juntavam as senhoras finas cá do burgo. A casa tinha lindos canteiros de flores muito bem tratados por um jardineiro. No r/ chão vivia a Dona Sílvia e o Sr. Roberto com duas filhas,um casal muito peculiar sendo ela uma senhora alta pelo menos aos meus olhos de criança e o marido era baixo e magro; ainda guardo na lembrança o guarda-chuva de chocolate da Vianense que me oferecia todas as semanas, quando vinha para casa do seu passeio da tarde.
Já estou quase a chegar a casa depois deste sobe e desce mas ainda encontro outra casa de r/ chão e 1° andar neste momento a ficar em ruínas onde vivia o Sr. Lopes e a Dona Josefina, um casal espanhol, que viveu largos anos cá e eu como noutras casas era visita assídua ia para lá ver televisão, um luxo naquela época mas o que mais me encantava era um pequeno candeeiro pousado em cima de uma mesinha de pé que parecia um caleidoscópio pois girava e refletia luzes de imensas cores além de se ouvir o som da água a cair, era lindo e nunca mais vi nada igual. Nós baixos vivia o Sr. Lírio e a Dona Cristina que tinham dois filhos a Ana Maria e o Alberto Manuel e a avó paterna a Dona Aninhas que vivia com a família. Era uma velhinha adorável e como eu gostava de estar na cama com ela a ler-lhe histórias. Noutro texto que escrevi falo mais em pormenor desta família com quem convívio bastante. Esta casa tinha ainda um portão lateral que dava acesso a uma outra casa que ficava ao fundo do terreno onde vivia o Sr. Pardilhó e a Dona Rosa com a filha a Lucindinha. E eis-me chegada a casa também de r/ chão e 1° andar como quase todas as casas daquele tempo. O primeiro andar era habitado pelo Sr. Martins e a Dona Maria juntamente com dois sobrinhos que criavam e ainda três empregadas. Este casal veio de África e já falei deles noutro texto e em relação à minha casa hei-de escrever sobre ela.
Muito mais há para dizer porque à medida que vou escrevendo, vão surgindo mais lembranças e tenho de escrever para que no futuro as possam ler e conhecerem ou quiçá recordar como era a minha rua.
Fernanda Cabral
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