AS MINHAS CRÓNICAS
DIA DE SÃO SIMÃO
No dia de São Simão, santo da devoção do lugar da Quinta do Loureiro terra natal do meu pai, logo pela manhã bem cedinho saiamos de Espinho em direcção à aldeia; íamos no táxi do Sr. Estrada, taxista amigo do meu pai de longa data e em quem ele depositava toda a confiança. Era um homem anafado,com uma grande barriga mas muito simpático. O meu pai ia sentado à frente no lugar do pendura e sempre a conversar, eu a minha mãe e as minhas irmãs atrás. Lembro-me muito bem de ir ao colo da minha mãe porque não havia cintos de segurança nem as cadeiras eram obrigatórias, outras vezes ia à frente no meio das pernas do meu pai e como isso me fazia sentir importante. A viagem que agora se faz em pouco mais de meia hora naquele tempo demorava quase duas horas, porque o táxi não ia a mais de 50 km à hora pela estrada nacional. Outros tempos!
Este dia era diferente, porque era dia de festa e a minha mãe fazia questão que se estreasse sempre uma roupa nova, e como eu era a mais novinha o meu vestido era sempre com lacinhos e folhinhos e normalmente feito por ela e mais tarde feitos pela minha irmã mais velha a Vitória.
Passávamos um dia maravilhoso, víamos os familiares que estavam longe e todos os adultos se juntavam em amena cavaqueira no pátio da casa enquanto a minha avó punha a mesa onde se sentavam a comer, a conversar e a continuar a colocar a conversa em dia; para os mais pequenos a minha avó punha uma mesa mais pequena encostada a uma das paredes da cozinha para enchermos as barriguinhas. Depois de comermos gostava de vir para o pátio brincar com os gatos e ver as galinhas e pintainhos que andavam por ali livremente a debicar o milho ou a debicar os bocadinhos de pão que eu tinha para lhes dar. Ainda havia tempo para brincar às escondidas com os primos e quando se ouvia os foguetes era chegada a hora da procissão; todos se aperaltavam para ver os andores a passar, com os anjinhos vestidos de branco a acompanhar. Os habitantes da aldeia e os forasteiros ajoelhavam-se com toda a devoção à passagem do pálio que abrigava o sacerdote, atrás seguia a fanfarra tocando solenemente. Depois, era a hora do regresso a casa, toda a gente debandava em direcção às suas casas para comer mais alguma coisa acompanhado de uma bela pinga para reconfortar o estômago. Entretanto era a hora de nos despedimos dos avós, dos tios e dos primos.
Na cesta preparada pela avó vinha sempre umas chouriças para matar as saudades e fruta que o meu pai tanto gostava. Depois das despedidas e de um adeus até à próxima visita encetávamos a viagem de regresso até Espinho.
Chegávamos cansados mas felizes e com vontade de voltar!
Fernanda Duarte Cabral
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial