Um Conto de Natal
Adelaide e Joaquim eram um casal pobre, ela doméstica tratava da casa e dos filhos, da pequena horta e fazia pequenos trabalhos de costura que lhe apareciam para ganhar mais um dinheirito extra que juntava à mísera reforma do marido. Era uma mulher bonita mas as agruras da vida tinham-lhe colocado bem cedo rugas profundas no seu rosto outrora tão lindo. Por sua vez, Joaquim tinha sido mineiro mas devido a questões de saúde ficou desempregado e recebia uma reforma que mal dava para viver. Este casal tinha 3 filhos, dois rapazes e uma rapariga que depois da escola ajudavam os pais na labuta diária. Ajudavam a tratar da pequena horta onde plantavam batatas, cebolas couves e cenouras com que a mãe fazia umas boas sopas para lhes saciar o estômago, o que sobejava era vendido na povoação vizinha e trocado por alguns víveres.
O Natal aproximava-se , os filhos já tinham feito uma cartinha a pedir uma prendinha ao Menino Jesus e Joaquim sem dinheiro para comprar fosse o que fosse. Andava triste e dava voltas à cabeça a pensar onde havia de arranjar dinheiro. Na manhã seguinte, depois de uma noite mal dormida em que chovera torrencialmente devido a um temporal que se abatera sobre a povoação, resolveu deitar pés ao caminho para fazer algum biscate que ajudasse ao magro pecúlio. Ao subir a ladeira, olha para o lado e vê num carreiro de água o que lhe pareceu ser uma nota, baixou-se para apanhar e esbugalhou os olhos ao ver que eram cem escudos; com o coração a bater descompassadamente meteu o dinheiro no bolso mas da alegria passou ao desassossego pois como homem sério que era não se sentia bem em guardar dinheiro que não era dele. Sem saber o que havia de fazer, foi ter com o velho prior para se aconselhar. O padre conhecedor da vida e das leis disse a Joaquim que se o dinheiro tivesse sido perdido havia de aparecer o dono e pediu-lhe para aguardar alguns dias, para verem se alguém se queixava mas como ele era um bom homem, honesto e trabalhador podia muito bem ser um desígnio de Deus e que tinha sido a maneira d'Ele o ajudar.
Joaquim mais conformado e com a alma lavada foi para casa mas ansioso que os dias passassem, para saber o que havia de fazer. Enquanto os dias passavam lentamente, ele imaginava as caritas dos filhos se lhes pudesse dar os brinquedos que eles tinham pedido e no Natal que podia proporcionar à família. Faltava uma semana e como ninguém reclamou o dinheiro, Joaquim foi à vila comprar uma boneca para a filha, uma bola para o filho mais velho e um carrinho de corda para o filho mais novo; comprou uma chinelas para a esposa Adelaide pois cortava-lhe o coração vê-la descalça em pleno inverno e conseguiu comprar um pequeno peixe de bacalhau para a ceia. Guardou tudo enquanto os olhos sorriam de satisfação a pensar na surpresa que os filhos e a mulher iam ter.
Na noite de Natal todos comeram e agradeceram a Deus a ceia que tinham tido; os garotos colocaram o calçado junto à chaminé e pediram mais uma vez ao Menino que não se esquecesse deles e dos pais e foram deitar-se nas suas enxergas. De manhã bem cedinho, mal o dia tinha despontado e o galo acabado de cantar, levantaram-se a correr e dirigiram-se à cozinha e.... qual não foi o seu espanto quando viram junto da lareira os brinquedos que tinham pedido. O pobre casal com as lágrimas a bailar-lhes nos olhos sorriam perante a alegria dos filhos e todos se abraçaram emocionados. Adelaide ficou feliz com as chinelas que Joaquim lhe deu e ele também recebeu umas meias que a mulher lhe tinha feito às escondidas com restos de lã que lhe tinham dado. Esta pobre família ficou mais rica em amor e infinitamente agradecida..
Terá sido um milagre de Natal?....
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