"A MINHA MÃE" ( In memórias )
A minha mãe que já sabem se chamava Alice, era uma mulher sã e escorreita, estatura média, elegante, cabelo castanho com ondas suaves que lhe contornavam o rosto corado e macio, uns olhos cor de mel que lhe iluminavam o rosto e sorriam quando ela sorria. Contava-me ela que em pequenina era loura como o trigo e que por isso era conhecida pela "Russa".
Depois de uma infância mais ou menos feliz, era a única rapariga numa família de quatro irmãos homens que a defendiam com unhas e dentes, foi crescendo até que a vida deu uma reviravolta, o pai faleceu e ela teve de ir trabalhar ainda novinha para ajudar a mãe e os irmãos no sustento da casa. Foi trabalhar para a padaria Gaio Duarte e Companhia Lda, cá em Espinho e da qual o meu pai era sócio e assim se conheceram. Apaixonaram-se e casaram, deste casamento nasceram quatro filhos, um rapaz e três raparigas, o Alfredo que herdou o nome do meu avô paterno, a Vitória, a Maria Alice e eu.
Foi uma boa mãe, boa dona de casa, boa cozinheira, sabia costurar, fazer malha e renda e transmitiu-me os seus conhecimentos. Lembro-me dela a cantar, principalmente fado enquanto lavava roupa no tanque, porque nesse tempo não havia máquinas de lavar. Tinha uma voz bonita e melodiosa e chegou a ser convidada para fazer carreira mas como era tímida nunca quis enveredar pelo caminho das canções.
Os anos foram passando, os filhos cresceram, casaram, vieram os netos e a minha mãe tornou-se numa velhinha adorável de belo cabelo branco que ainda brilhava sob a luz do sol, mas um dia sem ninguém estar à espera aconteceu o inevitável, ela voou para o céu, e a minha mãe que era o meu ninho de passarinho deixou-me. Dela, só restam as saudades do colo e daquele olhar que destilava ternura quando olhava para mim.
Fernanda Cabral